sábado, 10 de julho de 2010

DOE E ALEGRIA DE SER MULHER

Dor e alegria de ser mulher

A batalha feminina pela verdadeira felicidade e pelo reconhecimento social ainda está longe de terminar
Em primeiro lugar, gostaria de desejar muitas felicidades a todas as leitoras da Revista Já, nesta data especial, o Dia Internacional da Mulher. A luta feminina pela felicidade ainda está longe do seu final. A mulher acaba tendo múltiplos papéis sobrecarregados e cobranças sociais e familiares, com conflitos envolvendo a educação dos filhos e a colaboração ativa como profissional. Seu trabalho ainda é desqualificado, apesar das evoluções recentes.
Vivemos em uma sociedade compressora e massacrante, altamente geradora de estresse. A mídia cria estereótipos incongruentes e reducionistas. Há os temores do envelhecimento, da perda da libido e da beleza, do risco de envolvimento dos filhos em drogas e violência, do fim dos casamentos, da falta de sentimento e respeito por parte dos companheiros e das amizades frívolas. Casamentos e relacionamentos acabam sendo desfeitos, sem chances concretas de uma transformação construtiva e criativa. Viver diferenças exige generosidade e amadurecimento para que se possam edificar canais de comunicação.
A ação contra certos estereótipos envolve a capacidade de entrega, assumindo suas fragilidades. Por que não pedir uma ajuda ou “colo” quando se sente fragilizada? Por que evitar comportamentos com medo de exposição e críticas? Muitas mulheres sofrem por aceitar essas regras. A evolução deve ser bilateral, incluindo um processo de amadurecimento psicológico dos homens envolvidos.
O envelhecer deve ser encarado como uma dádiva. Rugas e alguma obesidade, independente dos inúmeros e dispendiosos tratamentos estéticos, chegarão cedo ou tarde. A velhice é inexorável à nossa espécie, de acordo com a vulnerabilidade genética e estilo de vida de cada um. Por que alguns homens ainda teimam em menosprezar suas parceiras, humilhando-as, ao exigirem, até ironicamente, um corpo e uma pele de menina aos 50 anos de idade? Em que nível fica a cumplicidade de um convívio íntimo estabelecido ao longo de décadas?
No meu consultório, muitas mulheres na menopausa sentem-se tristes, isoladas e desprezadas por seus companheiros e até filhos. Renegam-lhes o direito de transmitir seus conhecimentos e sentimentos mais profundos e nobres. Termos pejorativos são empregados, desrespeitosamente, tudo fruto de uma sociedade que cultiva o corpo, o dinheiro, o consumismo desvairado e uma imagem caricaturada de adolescente. A afetividade, a espiritualidade e a verdadeira sensualidade tornam-se secundárias.
Portanto, queridas leitoras: um mundo interno reestruturado e fortalecido substitui, com vantagem, eventuais declínios fisiológicos. Cuidem de todos os aspectos da saúde, mas não se enquadrem em neuroses da modernidade, como a eterna juventude, construídas em pilares humanos frágeis que só geram angústias e perdas. Entreguem-se a um sentimento amplo de amor e paixão pelos seus semelhantes e pelas suas respectivas vidas, aproveitando, em doses homeopáticas, a mágica dos períodos de transição e envelhecimento. Se precisarem, não hesitem em procurar uma ajuda na saúde mental.
Prof. Dr. Joel Rennó Júnior Doutor em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP. Coordenador do Pró-Mulher-Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher-Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

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